quinta-feira, 8 de março de 2012

HOMENAGEM AO DIA INTERNACIONAL DA MULHER - UMA MULHER EXTRAORDINÁRIA

FRIDA KAHLO

 
“ Piés para que los quiero, si tengo alas pa’ volar?”


 Nessa data, 08 de março, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, escolho Frida Kahlo como símbolo do feminino; uma mulher do século XX, forte e passional, capaz de viver com toda intensidade uma vida marcada pela tragédia e pelo sofrimento.  
Admiro Frida Kahlo sob todos os ângulos de sua pessoa emblemática.  A primeira coisa que soube sobre Frida foi através de sua pintura. Abri um jornal, folhei o caderno de arte, e ali, estava uma fotografia da tela “A Coluna Partida”, tomando a página inteira. Prmeiro, levei um choque e fui tomada por um sentimento de estranheza e de inquietação, diante da representação de uma mulher crivada de espinhos; depois, por uma forte emoção. Li a matéria e descobri que era um autorretrato de Frida Kahlo, uma pintora mexicana. Desde então, enchi-me de crescente admiração por essa mulher extraordinária e por sua pintura original e comovente, indissociáveis uma da outra. Olhando as telas de Frida, é possível saber muito da mulher ousada, desafiadora e sofrida que ela foi, uma vez que o tema de sua arte é ela mesma, como afirmava: ''Pinto a mim mesma porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor.'' Mas, ao mesmo tempo, é preciso conhecer um pouco de sua vida para compreender melhor a sua pintura.
 Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderóron, Frida Kahlo nasceu no dia 6 de julho do ano de 1907, na cidade de Coyoacán, próxima da Cidade do México, atualmente um distrito. Ela veio ao mundo dentro da própria casa de seus pais que ficou conhecida como La Casa Azul (A Casa Azul), hoje, Museu Frida Kahlo
                                                   Museo La casa azul
Seis anos depois, seu corpo sofreu o primeiro estrago: a poliomielite a deixou coxa por causa de problemas no pé e na perna direita.  Na adolescência, tentando esconder esse defeito, passou a usar calças compridas; mais adiante, saias longas, coloridas e extravagantes  – referências explícitas de sua origem indígena e espanhola – que se tornariam uma de suas marcas registradas e, em nossos dias, fonte de referência no mundo da moda.
Com dezoito anos, ela voltava da escola, quando o ônibus em que viajava chocou-se com um bondeO pára-choque de um dos veículos perfurou-lhe as costas, atravessou sua pélvis e saiu pela vagina, causando uma grave hemorragia. Frida ficou muitos meses entre a vida e a morte no hospital. Foi operada diversas vezes para reconstruir seu corpo, que estava todo perfurado. Tal acidente obrigou-a a usar vários tipos de coletes ortopédicos, e foi, nesse momento trágico, que ela encontrou uma saída na arte. Durante a sua longa convalescência, começou a pintar seus autorretratos, usando a caixa de tintas de seu pai e um cavalete adaptado à cama. Nesse período pintou aquele que é considerado um de seus trabalhos mais belos e expressivos: a tela intituladaA Coluna Partida”
                                           A coluna Partida

Nesse autorretrato, que tanta emoção me causou, não é difícil perceber a determinação e a coragem de Frida, de cabeça erguida, apesar das lágrimas e da expressão de tristeza e sofrimento.  Seu corpo está rasgado ao meio, sustentado por uma coluna toda fraturada. O colete de tiras, que parecem de aço, aperta seu peito e sua coluna. O seu corpo crivado de espinhos, até por cima da saia, faz lembrar o suplício de uma santa. O deserto, ao fundo, ressalta sua solidão e seu sofrimento.
 Frida, aos poucos, convalesceu-se do acidente, mas seu corpo ficou com lesões e dores, que a acompanhariam por toda a vida e a levariam a submeter-se a dezenas de cirurgias. Ela passou a maior parte do tempo de sua breve existência, deitada numa cama, sofrendo dores que muitas vezes não conseguia suportar. Mas, apesar das limitações e do sofrimento (uma das razões da grande admiração que desperta) e do pouco estudo de desenho antes do acidente, Frida conseguiu aprender pintura, sozinha, pintando autorretratos e retratos dos parentes.
Em 1928, três anos após o acidente, Frida entrou para o Partido Comunista Mexicano. Lá, conheceu o pintor muralista Diego Rivera, com quem se casaria um ano mais tarde. Foi um casamento de amor e de muito interesse políticos e artísticos em comum. Frida amava Diego loucamente e deixou vários registros do que ele significava para ela e de quanto o amava: ''Diego está na minha urina, na minha boca, no meu coração, na minha loucura, no meu sono, nas paisagens, na comida, no metal, na doença, na imaginação.''
 
                             Frida e Diego

          Sob a influência da obra do marido, a pintura de Frida Kahlo evoluiu. O artigo publicado no site Casa Operária em 12 de agosto de 2007, ano do centenário da artista, analisa sua evolução artística:
 “Ela adotou o emprego de zonas de cor amplas e simples, características da arte popular mexicana. Procurou na sua arte afirmar a identidade nacional de seu país, por isto adotava com muita freqüência temas do folclore e da arte popular do México. Ao lado de Diego, Frida foi adquirindo brilho próprio, por seu trabalho possuir um estilo incomum para a época, principalmente para uma mulher. Dezenas de nomes do mundo artístico e intelectual estiveram ligados a Frida Kahlo durante este período: André Breton, Julián Levy, Leon Trotsky, Tina Modotti e David Alfaro Siqueiros. A primeira exposição da obra de Frida foi realizada em Nova York, em 1939 e, em seguida, viajou a Paris. Foi a primeira artista mexicana a expor no Museu do Louvre. Em 1943, tornou-se professora de pintura em “La Esmeralda” em Coyacan, uma escola de artes vinculada ao Ministério da Educação.  No México, sua primeira exposição foi acontecer apenas em aconteceu em 1953, um ano antes de sua morte.”
                                      Auto-retrato com Colar de Espinhos
Um fato interessante sobre a exposição no seu país, tão longamente esperada, é que Frida, contrariando ordens médicas, compareceu deitada numa cama. Contam que passou a noite bebendo tequila e dando muita risada com os amigos.
Mas nem tudo correu bem em sua ligação com Diego Rivera. O casamento foi marcado por muitas brigas e traições de ambas as partes. Diego, embora achasse natural Frida relacionar-se com mulheres, não tolerava que se envolvesse com homens. E ela sofria demais e desesperava-se com as traições do marido. Por isso, alguns biógrafos afirmam que seus romances extraconjugais eram motivados pela vingança. Seu marido foi amante de Cristina, a irmã mais nova dela, e Frida só descobriu isso quanto encontrou os dois na cama de Diego. Eles mantiveram um caso por muitos anos e tiveram vários filhos.  Após o flagrante, para vingar-se do marido, Frida cortou seu cabelo enorme, que ele tanto venerava. Separou-se de Diego e deixou residência do casal em San Angel, onde moravam em prédios ligados por uma ponte. Mas, depois de alguns anos e do divórcio, pedido por Diego, voltou para o ex- marido. Casaram-se novamente e foram morar na Casa Azul. Tiveram um segundo casamento tão ou mais tumultuado que o primeiro. Ela passou a viver uma vida triste, entre brigas com amantes de Rivera e tentativas de suicídio. Em seu diário, ela assim analisa seu relacionamento com o marido: "Diego, houve dois grandes acidentes na minha vida: o bonde e vc. Vc sem dúvida foi o pior deles." 
                                                         A Corsa Ferida

 Além do sofrimento com as traições do marido, carregou consigo outra grande dor: nunca conseguiu dar a luz a um filho. Ela engravidou algumas vezes e, em todas, abortou.
Todas as experiências boas ou ruins estão fixadas em sua obra, essencialmente, autobiográfica. O artigo, já citado, continua analisando a arte revolucionária de Frida Kahlo:
     “Seus quadros tem como característica básica o fantástico, que frequentemente é taxado de surrealista, uma terminologia imprecisa porque, enquanto os surrealistas pintavam o subconsciente, o escondido, o sonho, o irreal; Frida pinta as emoções por que passou. Ela mesma declarou mais tarde: "Acreditavam que eu era surrealista, mas não o era. Nunca pintei meus sonhos. Pintei minha própria realidade". Por meio dessas obras, é possível identificar as diversas passagens de sua vida. Como as referências ao acidente, as dores na coluna, a poliomielite, os abortos, o desejo da maternidade, que nunca realizou, as frequentes internações. O fantástico em Frida é o real, o consciente. A sua pintura é única; é a biografia de suas lutas e sua tragédia pessoal. André Breton escreveu: “ A Arte de Frida Kahlo é um garrote em torno de uma bomba”. Frida impressiona! A sua frágil figura contrasta com a força de sua procura por liberdade e sua tragédia, Frida transformou a pintura em um instrumento de libertação pessoal, algo que pode ser observado em uma das mais comoventes passagens de seu diário: ''Pintar completou minha vida. Perdi três filhos e uma série de outras coisas, que teriam preenchido minha vida pavorosa. Minha pintura tomou o lugar de tudo isso. Creio que trabalhar é o melhor.''
                                                  Dois Nus na Floresta
                                                            
        A característica revolucionária de sua obra reside no fato de ter sido umas das primeiras artistas a retratar de modo realista, agressivo e, ainda assim erótico, a feminilidade. Dentro de uma linguagem visual própria e original, ela pintou seus quadros com temas como a gravidez, o parto e o aborto. Em outra tela, um belo exemplo de seus inúmeros autorretratos (outro traço marcante de sua produção), "Diego no meu pensamento", podemos encontrar também características importantes da obra da pintora: a representação da sua imagem, a exposição da sua própria vida, com a imagem de seu grande amor lhe surgindo na testa ; e a indumentária tradicional mexicana, aliada a uma certa tropicalidade, que remete ao clima quente mexicano, com a saturação de cores e o ambiente térreo de tons alaranjados.
 
                                                                     Diego em Minha Mente
                                         
     Em 13 de julho de 1954, Frida, com 47 anos de idade, é encontrada morta. Seu atestado de óbito constatou embolia pulmonar, devido a uma forte pneumonia, mas a possibilidade de overdose de remédios também não fora descartada, sendo a mesma, acidental ou não. Existem suspeitas de suicídio, mas também, de que possa ter sido envenenada por uma das amantes do marido.
       Na última frase, escrita em seu diário, Frida despediu-se assim: "Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar". Porém, essa mulher extraordinária eternizou-se nas pinturas; no seu diário, traduzido em outras línguas; nas telas, com os filmes: Frida Natureza Viva (1983) do diretor Paul Leduc – filme mexicano. E Frida (2000) da diretora Taymor – filme norte-americano.




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4 comentários:

  1. Nunca tinha ouvido falar de Frida Kahlo. Mas a história dela me emocionou até as lágrimas.Pelo que você conta ela foi realmente extraordinária, vítima das circunstâncias, vítima de si mesma e, ao mesmo tempo, uma guerreira, uma mulher que luta enquanto vive, no entanto espera a morte sem dramas, até com desdém. A morte não a venceu, parece que Frida a recebeu de cabeça erguida.

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  2. Trilegal! Frida é sem dúvidas a artista que mais transparece o seu lirismo. Sou incondicionalmente fascinado por esta mulher guerreira! Obrigado por permitir-nos a degustação deste seu trabalho. Paz e bem!

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  3. Muito bom! Sou admiradora de Frida e de sua arte, mas reconheço que li pouco sobre ela. Seu texto me trouxe importantes informações sobre a vida dessa mulher guerreira e admirável.

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  4. Assisti ao filme da diretora Taymor com a extraordinária Salma...Adorei seu texto e tb não contive as lágrimas...Obrigada, realmente esclarecedor.

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