sábado, 3 de março de 2012

NAS VEREDAS DO SERTÃO: IMPRESSÕES DE LEITURA

 

NAS VEREDAS DO SERTÃO: IMPRESSÕES DE LEITURA

VIAJANDO COM ALEILTON FONSECA



Comecei a leitura do livro “O desterro dos mortos”, assim que me despedi do autor, enquanto procurava a sombra de uma árvore, no campus da UEFS. Comecei pela contra capa e fui, logo, fisgada pela estranheza da frase inicial do terceiro parágrafo: “O rapaz tentou feri-lo com a ponta seca do silêncio, mas não conseguiu sustentar o duelo”.  Mas, só fui puxada para dentro do livro, ao ler a frase: “ Eu lhe dava aquele ramo de rosas vermelhas, com todos os espinhos que carreguei por todos esses anos.”  Era o rapaz respondendo à pergunta do velho sobre o que faria se soubesse quem era seu pai. Parei, aspirando a brisa da tarde e a poesia daquela frase. Reli todo o trecho da contra capa, tentando apreender-lhe a essência, o significado... Folheei o livro e li um trecho de cada conto, até a página quarenta e cinco, onde percebo, no primeiro parágrafo, que seu personagem é um menino sem pai. Continuei lendo um trecho aqui, outro acolá, até a página 54. Ali estava o que fora reproduzido na contracapa. Era aquele o conto.
Comecei de seu belo título “Para Sempre” e segui – guiada pelo foco suave da lanterna do narrador – a busca do rapaz à procura de seu pai e de sua história, onde a morte se apresenta, logo no início, levando sua mãe e deixando-o órfão para empreender a jornada ao encontro de seu pai e de outras mortes. Somente no final, quando ele deposita as rosas no túmulo dos pais, é que obtive a compreensão preciosa do que significava ele dar um ramo de rosas, com os espinhos que trazia na alma. Ao depositar as rosas, o rapaz pode abrir mão da morte que trazia dentro de si. Suas feridas se fecham , ele renasce, torna-se homem, e uma nova etapa de sua vida se inicia.
Daqui, resolvo que vou empreender a viagem proposta por Aleilton Fonseca. Vou voltar da página 55 e começar do início. Vou caminhar com ele por essas veredas do sertão. Vamos viajar a pé, a cavalo, de ônibus, no lombo dos bois ou de canoa, de carrinho de mão, do jeito que der. Mas não vamos somente nós dois, autor e leitora, não. A Morte viajará conosco.  Aleilton me avisou desde a estação de partida. Ali tem um letreiro dizendo o destino: “O desterro dos mortos”.
Nosso próximo destino é a casa de uma senhora octogenária que vai contar a ele uns causos das passagens de “Nhô Guimarães”. Vamos a cavalo porque a casinha fica lá onde o vento faz a curva. Aleilton vai tomar nota de tudo, e eu vou ficar de “butuca só assuntando as prosa”. Vou me sentar bem longe de Dona Morte porque ainda não tenho intimidade com essa senhora.
Aguardem o meu retorno.



Um comentário:

  1. Prestando homenagem à MULHER anónima. de que esta e muitas outras são exemplo, Aplaudo-a por esta nobre escolha e fundamentalmente pela sua arte (fonte de VIDA) e pelo seu belo texto.

    ARFER

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