Ia passando por uma rua próxima,
quando sentiu o desejo irresistível de rever aquela casa. Parou o carro e
deixou que suas pernas a levassem à rua das mangueiras. Era melhor voltar – uma
mulher de trinta anos parecendo uma adolescente – iria apenas passar como quem
não quer nada, só para dar uma olhada. De longe, avistou a casa amarela. Parou
tentando recuperar a respiração. Ainda havia tempo de voltar. Seu corpo
impulsionou-se até o número 25. Quedou-se observando: a fachada imponente, a
porta entalhada, o muro de pedra, o jardim de rosas, a grade alta... Em que momento tudo se acabara? Antes, entrava
sem se anunciar, agora não podia sequer tocar a campainha. Precisava desistir.
Dobrou a esquina e viu o portãozinho do quintal, aberto. Olhou para os lados e
entrou.
Experimentou o trinco da porta da cozinha.
Arrodeou a casa, viu uma janela aberta. Volte, Marina, volte... Escutou o
silêncio da casa, o coração aos pulos. Estava louca. Uma mulher casada com um
deputado, mãe de dois filhos – escondida – espreitando o interior de uma casa! Assomou a cabeça à janela e viu a sala de
jantar parada no tempo: a mesa grande, as cadeiras de veludo verde, os quadros,
o lustre. Apenas as cortinas eram novas – cor de vinho. Mulherzinha de mau
gosto! Fechou os olhos, calculou a altura da janela – como da primeira vez que
dormira com ele – agarrou-se ao parapeito e pulou.
Ouviu o chuveiro e a voz dele vinda de
longe – Quem é?
Entrou no quarto, escondeu-se atrás da
cortina, ficou a espiá-lo – belo e viril – enxugando o cabelo. Ouviu a ordem –
Marina, saia daí!
Marina fundiu-se ao corpo nu. Sentiu
uma mistura de prazer, felicidade e dor. Teve medo de estar sonhando novamente.
Desejou morrer: não queria acordar em sua casa, na cama ao lado do marido.
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