sexta-feira, 1 de junho de 2012

DÈJÁVU








Ia passando por uma rua próxima, quando sentiu o desejo irresistível de rever aquela casa. Parou o carro e deixou que suas pernas a levassem à rua das mangueiras. Era melhor voltar – uma mulher de trinta anos parecendo uma adolescente – iria apenas passar como quem não quer nada, só para dar uma olhada. De longe, avistou a casa amarela. Parou tentando recuperar a respiração. Ainda havia tempo de voltar. Seu corpo impulsionou-se até o número 25. Quedou-se observando: a fachada imponente, a porta entalhada, o muro de pedra, o jardim de rosas, a grade alta...  Em que momento tudo se acabara? Antes, entrava sem se anunciar, agora não podia sequer tocar a campainha. Precisava desistir. Dobrou a esquina e viu o portãozinho do quintal, aberto. Olhou para os lados e entrou.
 Experimentou o trinco da porta da cozinha. Arrodeou a casa, viu uma janela aberta. Volte, Marina, volte... Escutou o silêncio da casa, o coração aos pulos. Estava louca. Uma mulher casada com um deputado, mãe de dois filhos – escondida – espreitando o interior de uma casa!  Assomou a cabeça à janela e viu a sala de jantar parada no tempo: a mesa grande, as cadeiras de veludo verde, os quadros, o lustre. Apenas as cortinas eram novas – cor de vinho. Mulherzinha de mau gosto! Fechou os olhos, calculou a altura da janela – como da primeira vez que dormira com ele – agarrou-se ao parapeito e pulou.
Ouviu o chuveiro e a voz dele vinda de longe – Quem é?
Entrou no quarto, escondeu-se atrás da cortina, ficou a espiá-lo – belo e viril – enxugando o cabelo. Ouviu a ordem – Marina, saia daí!
Marina fundiu-se ao corpo nu. Sentiu uma mistura de prazer, felicidade e dor. Teve medo de estar sonhando novamente. Desejou morrer: não queria acordar em sua casa, na cama ao lado do marido.






















                                                      

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