quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Reconhecimento



O fino traço dos olhos, uma linha
esperam em mim, postos e retos.
O esguio corpo marchetado
aguarda-me teso e convexo
Garras e presas graníticas.
Fito-a e meu corpo ofereço ao seu repasto:
Vem bicho do mato, onça-pintada
Vem, me dilacera, vem e me devora.
Imito seu andar digitígrado.
O salto felino vejo-o no ar.
Mas, eis que seus olhos famintos se abrem:
girassóis amarelos em mudo reconhecimento.
Dentro deles, eu me reflito: onça-feroz,
um rugido nascendo na garganta,
pintas desbotadas, caminhos escuros
mata fechada, céu escarlate...
O tratador ordena que eu me afaste,
Vozes rasgam a tarde azul.
Há um clamor no zoológico.
Eles veem a mulher e a onça
no iminente ritual de morte.
Há um silêncio de vidro na arena.
Somos apenas dois bichos presos,
ela e eu: onças-pintadas.

Ana Maria Rosa
Feira de Santana, inverno de 2012.








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