Conheci o autor Victor Mascarenhas na Flica (Feira Literária Internacional de Cachoeira): espirituoso, irônico, debochado... Sua mesa (um bate papo escrachado com Reinaldo Moraes sobre as histórias de ambos) foi a mais divertida. Comprei o livro CAFEÍNA e li todos os contos num fôlego só. Quando gosto de um livro, faço isso: devoro e, depois, fico ruminando... Faz quase um mês que reli as histórias, e certos personagens ainda rondam à minha volta: o homem que passa a noite num táxi, a rodar sem destino; o garçom, desesperado, preso no circuito fechado de sua vidinha; o gordo e perverso leão-marinho que não recebe compaixão (do autor ou da leitora) nem mesmo à beira da morte; o porteiro temente a Deus que resolve ir para o inferno num vôo de vinte e sete segundos. Relembro, especialmente, as três personagens femininas: a puta, retratada com humor sarcástico, “dando ao negão” em troca de um cafezinho; Rita, a ascensorista, cujo universo resume-se ao elevador; e Celeste, a pobre velha, um zumbi vagando num mundo de não-lembranças. Essas duas últimas mulheres – destroçadas pela solidão – são seguidas pela lanterna de Victor com luminosidade suave e, talvez por isso, emergem do livro de forma mais comovente.
Os personagens eleitos por Victor, assim como sua escrita ágil e cortante ,me fazem lembrar dois autores em especial: Rubem Fonseca e Dalton Trevisan. Se você costuma ler as histórias do “Vampiro de Curitiba” e do “Ex-policial-escritor”, já está um pouco preparado para adentrar o território dos “zumbis” do baiano Victor Mascarenhas, o cara que “sabe derramar sal na ferida das vidas vazias” como disse Fausto Fawcett no prefácio de Cafeína.
Obrigado pro suas palavras tão generosas. Muito bom saber que você gostou da minha participação na Flica e do Cafeína. Mais do que isso, que bom que você fez uma leitura tão cuidadosa, analítica e pertinente do meu trabalho. Essa observação sobre as personagens femininas, por exemplo, é a primeira vez que alguém faz e fiquei muito gratificado com ela. Geralmente as críticas que recebeo dizem que minha escrita é muito masculina e viril, sem espaço para delicadezas. Eu tenho consciência disso e esses contos foram escritos para encarar esse desafio e você foi a primeira leitora a me dar esse retorno positivo.Espero que você também goste de " A insuportável família feliz", o meu novo livro e aproveito para passar o link do trailer do filme que a Oi Kabum fez adaptado do conto "leão-marinho"
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=2Se8S6h2xsI
Abraço,
Victor