sábado, 12 de novembro de 2011

Comentário de Leitura: Uma dose de cafeína

  Conheci o autor Victor Mascarenhas na Flica (Feira Literária Internacional de Cachoeira): espirituoso, irônico, debochado... Sua mesa (um bate papo escrachado com Reinaldo Moraes sobre as histórias de ambos) foi a mais divertida. Comprei o livro CAFEÍNA e li todos os contos num fôlego só. Quando gosto de um livro, faço isso: devoro e, depois, fico ruminando... Faz quase um mês que reli as histórias, e certos personagens ainda rondam à minha volta: o homem que passa a noite num táxi, a rodar sem destino; o garçom, desesperado, preso no circuito fechado de sua vidinha; o gordo e perverso leão-marinho que não recebe compaixão (do autor ou da leitora) nem mesmo à beira da morte; o porteiro temente a Deus que resolve ir para o inferno num vôo de vinte e sete segundos. Relembro, especialmente, as três personagens femininas: a puta, retratada com humor sarcástico, “dando ao negão” em troca de um cafezinho; Rita, a ascensorista, cujo universo resume-se ao elevador; e Celeste, a pobre velha, um zumbi vagando num mundo de não-lembranças. Essas duas últimas mulheres – destroçadas pela solidão – são seguidas pela lanterna de Victor com luminosidade suave e, talvez por isso, emergem do livro de forma mais comovente.
Os personagens eleitos por Victor, assim como sua escrita ágil e cortante ,me fazem lembrar dois autores em especial: Rubem Fonseca e Dalton Trevisan. Se você costuma ler as histórias do “Vampiro de Curitiba” e do “Ex-policial-escritor”, já está um pouco preparado para adentrar o território dos “zumbis” do baiano Victor Mascarenhas, o cara que “sabe derramar sal na ferida das vidas vazias” como disse Fausto Fawcett no prefácio de Cafeína.

Um comentário:

  1. Obrigado pro suas palavras tão generosas. Muito bom saber que você gostou da minha participação na Flica e do Cafeína. Mais do que isso, que bom que você fez uma leitura tão cuidadosa, analítica e pertinente do meu trabalho. Essa observação sobre as personagens femininas, por exemplo, é a primeira vez que alguém faz e fiquei muito gratificado com ela. Geralmente as críticas que recebeo dizem que minha escrita é muito masculina e viril, sem espaço para delicadezas. Eu tenho consciência disso e esses contos foram escritos para encarar esse desafio e você foi a primeira leitora a me dar esse retorno positivo.Espero que você também goste de " A insuportável família feliz", o meu novo livro e aproveito para passar o link do trailer do filme que a Oi Kabum fez adaptado do conto "leão-marinho"
    http://www.youtube.com/watch?v=2Se8S6h2xsI
    Abraço,
    Victor

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